Alice no País das Maravilhas, publicado em 4 de julho de 1865 e escrito por Lewis Carroll, é uma obra que tem fascinado gerações ao longo dos anos. Sob a superfície de uma história aparentemente infantil, encontramos um mundo complexo, repleto de simbolismos e temas profundos que podem ser explorados através de diferentes perspectivas.
No início do livro, encontramos a jovem Alice sentada ao lado de sua irmã mais velha, que está absorta na leitura de um livro para adultos. Alice, desejando algo mais do que palavras no papel, reflete internamente sobre a falta de figuras e diálogos naquele livro. Essa reflexão sutilmente indica seu anseio por uma experiência mais vívida e interativa. É nesse momento que ela avista um Coelho Branco vestindo um colete e carregando um relógio de bolso. Surpreendentemente, o Coelho olha as horas e exclama: “Por minhas orelhas e meus bigodes, como está ficando tarde!”. Curiosa, mas sem se deixar surpreender, Alice decide seguir o Coelho Branco, caindo assim no buraco que conduz à sua toca. A partir desse ponto, somos levados junto com Alice a um mundo subterrâneo mágico e fantástico – o País das Maravilhas, onde Alice se depara com personagens e situações que desafiam sua compreensão da realidade, confrontando-a com seus próprios medos e desejos reprimidos.
“Quem sou eu neste mundo maluco? Ah, essa é a grande pergunta.”
A queda de Alice na toca do Coelho Branco retrata sua imersão no inconsciente. Ela é transportada para um mundo além das limitações da realidade cotidiana, onde símbolos e metáforas ganham vida. Essa descida simboliza a entrada de Alice em um mundo de autodescoberta e exploração de seus medos, desejos e angústias mais profundos.
O Coelho Branco, com sua obsessão pelo tempo e sua constante pressa, pode ser interpretado como uma representação da ansiedade e da urgência em nossa sociedade. Sua presença na história ressalta a preocupação humana com a passagem do tempo e a necessidade de cumprir obrigações e expectativas. A relação de Alice com o Coelho Branco reflete a luta interna entre o desejo de aproveitar o momento presente e a pressão para se adequar às demandas externas.
“Ai de mim! Ai de mim! Vou chegar atrasado!”
O encontro de Alice com o Chapeleiro Maluco pode ser definido como uma simbolização da mente fragmentada. O Chapeleiro Maluco personifica a loucura e a falta de sentido, desafiando as convenções sociais e questionando a própria existência. Nesse sentido, encontramos reflexões filosóficas sobre a natureza da realidade e da identidade.
“Você enlouqueceu completamente, mas vou lhe contar um segredo: as melhores pessoas são assim.”
A Rainha de Copas nos apresenta uma figura autoritária que impõe sua vontade de forma desmedida, ela caracteriza o superego, a parte da mente que internaliza normas e regras. Nesse contexto, Alice se depara com um conflito interno, tendo que lidar com sua própria consonância e desejos em meio às pressões e repressões impostas pelo superego.
A figura da Rainha de Copas, além de autoritária é opressora, protagonizando julgamentos severos e punindo qualquer desvio das normas estabelecidas. Essa representação também nos remete à crítica de Carroll à sociedade vitoriana, na qual a reprodução dos desejos individuais era amplamente difundida.
“Alice pensou que nunca tinha visto uma raiva tão intensa quanto aquela Rainha manifestava.”
O Gato de Cheshire por sua vez, reflete a dualidade e as incertezas existenciais com sua capacidade de aparecer e desaparecer, deixando apenas seu sorriso intrigante. O diálogo entre Alice e o Gato evidencia também a busca constante por significado em um mundo aparentemente ilógico.
Alice: (Curiosa) Olá, Sr. Gato. Pode me ajudar, por favor? Estou um pouco perdida neste lugar estranho.
Gato de Cheshire: (Sorrindo) Bem, isso depende muito para onde você deseja ir.
Alice: (Confusa) Ah, não tenho certeza. Na verdade, não tenho um destino específico.
Gato de Cheshire: (Irônico) Nesse caso, qualquer caminho serve.
Ao se deparar com o Chapeleiro Maluco e a Lebre de Março, Alice testemunha um chá interminável e uma lógica caótica. Esse encontro leva Alice a questionar as regras e convenções impostas pela sociedade, abrindo espaço para reflexões sobre a liberdade individual e a autenticidade.
A Lagarta Azul configura a fase de transformação e autoconhecimento de Alice. Sua pergunta recorrente, “Quem é você?”, incita a protagonista a refletir sobre sua própria identidade e propósito. A metamorfose da lagarta em borboleta sugere a possibilidade de crescimento e transformação pessoal, ressaltando a importância do autodescobrimento e do enfrentamento das incertezas.
“Quem é você? – perguntou a lagarta.
Não sei – respondeu Alice – Não sou mais a mesma pessoa que era quando acordei esta manhã.”
“Quem sou eu então? Vamos, diga! É seu dever saber.”
O ápice da história de Alice ocorre no julgamento da Rainha de Copas, um momento em que a autoridade e a tirania são postas em evidência. Alice se vê em conflito interno, buscando sua própria autonomia e lutando contra a opressão da Rainha. Esse episódio destaca a importância de seguir a própria voz interior e desafiar as estruturas de poder que limitam a liberdade individual.
Após uma série intensa de acontecimentos, Alice desperta e percebe que tudo não passou de um sonho. No entanto, a experiência vivida deixa uma profunda impressão em sua mente. Ela se questiona sobre o sentido daqueles acontecimentos, a relação entre o sonho e a realidade, e sobre como pode aplicar as lições aprendidas no mundo cotidiano. Essa reflexão final nos leva a considerar a importância de buscar significado e encontrar equilíbrio entre a fantasia e a realidade em nossas vidas.
Alice no País das Maravilhas nos envolve em uma aventura repleta de simbolismos e mensagens ocultas. Ao seguir a história de Alice, exploramos o mergulho no inconsciente, onde somos convidados a refletir sobre nosso próprio caminho de autodescoberta, o confronto com as normas impostas pela sociedade e a busca por sentido e equilíbrio em meio à complexidade da existência humana.
Referências bibliográficas:
Freud, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos.
Carroll, Lewis. Alice no País das Maravilhas.
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